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Relato de viagem

Um Abraço no Rio Grande do Sul (ou ... O Quanto se Pode Fazer em Nove Dias de Moto sem Correrias!)

  Retornamos, Martha e eu, no dia 07 de setembro de 2011, ao nosso refúgio nas montanhas, em Urubici, depois de um passeio, de moto, pelo Rio Grande do Sul. Foram 1.800 km em nove dias, tempo suficiente para deixar de lado o envolvimento com outras atividades, que não é apenas o prazer de rodar de moto.   A primeira vez foi em Passo Fundo, depois de 8 horas de passeio pelo Planalto Catarinense e Rio Grandense, com a participação de um seminário em Belas Artes do Rio Pelotas e as pequenas e simpáticas comunidades e vilarejos entre Vacaria e Passo Fundo, com suas engraçadas de “VENDO AMEXAS E PESEGOS”, escritas à mão livre, que sempre querem fotografar e que depois são apagadas para trás. À noite jantamos um linguado ao leite de coco, acompanhado por um Torrontes 2009 do Valle de Cafayate, Argentina, no apartamento dos Borges, Luiz Felipe, Letícia eo café Ernesto, Brasil Riders como nós, que sempre quer primorosamente seus colegas moto-viajantes. No dia seguinte chegou a São Miguel das Missões para o público do Primeiro Encontro de BRs nas Missões. Hospedagem no Wilson Park Hotel, um hotel confortável e amplo com a arquitetura nas construções jesuíticas do sec. XVII, circundando uma piscina Hollywoodiana, pelo preço camarada de R $ 120,00 por diária para um casal, ar-condicionado, varanda, ar-condicionado, frigobar e internet. Isto é como o café matinal e as comidas muito bem elaboradas, pois eles não são muito parecidos com o que há de melhor no centro de tradições. Nativistas, confraternizando com uma centena de Brazil Riders. Confraternização que nos permite rever amigos e fazer novas amizades, todos motociclistas, pagador  missionário, dizia ter sido “consagrada no altar da pulperia”, o que pode ser traduzido, sem caráter poético, por “balcão do buteco”), algumas trazidas de recônditos de São Paulo e Minas Gerais. O cardápio do encontro incluiu o churrasco e o churrasco de culinária gaúcha rio-grandense, mas preparados com esmero e, especialmente o carreteiro, com receita própria do José, Dentista local e cozinheiro de mão cheia! Ah, o baile improvisado, o som da gaita e de um vilão campeiro e o show de dança da gurizada do CTN Sinos de São Miguel, complementado pelas atrapalhadas apresentações de chula dos próprios BRs! Aproveitando para rever, em uma caminhada diurna, como as ruínas de São Miguel, sempre com uma sensação, já experimentada, de estar passando por um lugar sagrado e carregado de uma energia muito forte; e para assistir à noite, neste local mágico, o espetáculo de luz e som .... imperdível e inesquecível, com o perdão da repetição (inevitável) do sufixo! No meu caso, esse retorno remonta a 1958/1959, quando conheci, aos 11 anos de idade, como as ruínas abandonadas, com uma figueira crescendo na torre dos sinos, suas raízes contorcidas abrindo fendas na estrutura de arenito; e com sepulturas do cemitério jesuíta e ocupada por enxames de abelhas. Ainda em São Miguel, no dia do fim do Encontro de Pilotos do Brasil, foi uma fonte de água responsável pelos jesuítas e pelos guaranis de São Miguel. Um encanto de construção em arenito, com algumas pequenas faces de anjos esculpidos, que em muito lembra, em pequenas dimensões, como as construções em pedras, justapostas dos incas. Também conhecemos um Ponto de Memória, a iniciativa do Valter, da Secretaria de Turismo de São Miguel das Missões, onde tenta preservar objetos de valor histórico e arqueológico da região e de atividades de interesse cultural. Another possible surprise: the one size to reencontrar Dalva, a prima one of the wedding, is one of our wedding, is one of our wedding rings, in an adult house is one of the two years, and their know how their their descendentes. No quinto dia de viagem tomamos o rumo de Mata, a cidade dos bosques petrificados e os fósseis de animais do período Mesozóico (ou seja, entre 250 a 50 milhões de anos antes do presente). A descida da serra entre Santiago e Mata é um dos mais bonitos para se fazer de moto no RS. Antes, entretanto, visitou as ruínas de São Lourenço, mas também foram bem conservadas e restauradas como são Miguel, mas também interessante e mágica. Gênero, Padrões, Padrões, Padrões, Padrões, Padrões, Padrões, Padrões, Padrões, Padrões, Padrões Múltiplos de coroinha da Igreja N. Sra. Auxiliadora, em Porto Alegre. Em Mata nos hospedamos no Hotel Paleon, um simples e barato, onde à noite jantamos “à la minuta” (arroz, feijão, ovo frito e bife). A cidade, pequena, mantém um Jardim Paleontológico. Trata-se de uma área de cerca de 2 ha, com algumas árvores esparsas, onde estão várias árvores e fragmentos petrificados. O local, bem-vindo, é um cuidado de um senhor de nome Aury, que discursa com facilidade sobre os achados paleontológicos da região, uma origem dos mesmos e das outras curiosidades de interesse científico, mas curioso mesmo é o fato de que Aury é analfabeto e seus O seu currículo é fruto da sua curiosidade, o que leva as palestras de professores da Universidade Federal de Santa Maria. Mata também é um museu com um enorme acervo e é apresentado em um espaço reduzido. Há crânios dos pequenos, e um fóssil completo de mesossauro (atuais) e vários pares de rincossauros e mais recentes Megatherium (uma chamada preguiça-gigante), entre as outras peças raras. Em viagens pela Patagônia Argentina, têm sido muito bem sucedidos, apresentados em magníficos e com os melhores textos elucidativos, em requintados museus de paleontologia e em História Natural. O seguinte método foi desenvolvido para funcionar em conjunto com a Universidade Federal e um Curso Superior de Paleontologia. um ponto de encontro da UFSM cancelou o convênio que mantinha com o município e até hoje nem pesquisa mais no mesmo. É simplesmente revoltante esse tipo de coisa que se faz tão comum, e de forma impune, neste nosso país (ou deveria, por isso, ser “país”, assim mesmo, com “p” minúsculo?… Mas deixei com “P” Maiúsculas por conta dos Aurys que existem por aí)! No dia seguinte já estacionamos a G 650 GS na Fazenda dos Pinheiros, em Encruzilhada do Sul, para rever parentes, entre eles Edinei e Edilka, seu genro Pedro Paulo e o Prefeito Artigas, esse preocupado em entregar a algum mau administrador, na próxima eleição,  a Prefeitura Municipal recheada de recursos, quando a recebeu endividada a 7 anos atrás. Ufa! Ainda bem que o parente é dos que justificam um “P”maiúsculo! O jantar, na fazenda, foi acompanhado por um Cabernet Sauvignon chileno, mas bem que poderia ter sido acompanhado por um dos bons vinhos da Casa Valduga, cujos vinhedos emolduram o começo da estrada que, no dia seguinte, nos levou a Porto Alegre. Em Porto Alegre nos hospedamos no Hotel Milão Turis, cuja grande vantagem para nós foi estar localizado próximo a uma das saídas para a Free Way, nosso caminho de volta, e a 800 metros do local onde veríamos, na noite seguinte, o show do Eric Clapton. Na capital do Rio Grande do Sul não podíamos deixar de visitar o Mercado Público e lá comprar pelo menos umas frutas secas, já que charque, bacalhau e vinhos não seriam comportados pelos bauletos já abarrotados da Gzinha. Também passeamos pela Praça da Matriz, revisitamos a Catedral e o Palácio Piratini e conhecemos o Shopping Moinhos de Vento, onde encontramos a amiga Camila, com que fomos assistir ao filme argentino “Um Conto Chinês”, do quase desconhecido Sebastián Borensztein, mas interpretado pelo excelente Ricardo Darin (também intérprete de “O Segredo dos Seus Olhos” e “Nove Rainhas”). Muito bom o filme, tanto quanto foram os outros dois que citei. Ótimo também foi o show do Eric Clapton, no penúltimo dia de viagem, ainda com uma voz vigorosa e com a agilidade de um garoto, completada pelo apuro técnico que a experiência vai cada vez mais acrescentando, ao percorrer com os dedos as cordas das guitarras. No conjunto que o acompanha nesta turnê brasileira, ressalto Chris Stainton e Tim Carmon nos teclados (dão solos espetaculares) e Michelle John e Sharon White como backing vocals. Valeu à pena assistir Layla, Cocaine, Lay Dow Sally e Kay to the Highway, entre outras, com novos arranjos e com muita energia! Retornamos um Urubici, na manhã seguinte, pelo litoral até o Morro da Fumaça e dali subimos a Serra pelo Rio do Rastro, nos deliciando com a paisagem, apesar do cansaço deste dia de 8 horas de viagem, às vezes por estradas movimentadas com trechos em construção e com muito vento. Agora, ao escrever esse relato, nos contar com a quantidade de coisas que vimos e fazer em apenas nove dias e que o primeiro a ser levado por uma motocicleta!   Jordan Wallauer

NOVA VIAGEM DE MOTO A NEUQUÉN, ARGENTINA

VIAGEM DE MOTO A NEUQUÉN, ARGENTINA, (10/03 a 01/04/2011) Jordan Wallauer e Martha Tresinari B. Wallauer Em outubro / novembro de 2010, pilotando uma Honda XRE 300, percorrendo uma parte do centro e norte da província de Neuquén, na Patagônia Argentina. Minha esposa Martha iria de avião até a cidade de Neuquém, onde nos encontraríamos para alugar uma 4X4 e seguirmos juntos, já que ela tinha um trauma com relação a uma motos. Por razões de problemas de saúde, a família não pode viajar, mas ficou com a atenção aéreas. When Martha manifestou o desejo de me acompanhar como garupa - surpresa - providenciar uma troca de moto por uma BMW G 650 GS (que já ganhou o apelido de Gzinha), mais potente e confortável para dois, e voltei à Província de Neuquén, procurando Novos caminhos, para encontrar com Martha na cidade do mesmo nome. A primeira etapa da viagem, Urubici / SC a Ijuí / RS, envolveu a neblina e a garoa na serra catarinense, e a iniciativa nos planos catarinense e gaúcho. O primeiro lugar da pilotagem da G 650, que tem o lugar mais baixo, a possibilidade de ser muito consensuada, mas o melhor é o mata-cachorro original da BMW e a adaptar uma barra horizontal com pedaleiras dobráveis ​​nas pontas, posso esticar como pernas e ficar em posição super-quente quando desejo. Esse artefato, montado em cano de ferro galvanizado ao qual foi vendido como pedaleiras com solda MIG, foi pintado em alumínio DuPont, igual um BMW original (obra de meus amigos da Serralheria Serrana, de Urubici). Em Ijuí um bom papo com o Brasil Cavaleiro Pedro de Souza, cerveja e batatas fritas e logo tratei de descançar. O Hotel Nossa Casa, onde me hospedei, emocionado com as imagens do tsunami no Japão. Estive em sas tiracolo em um país e tenha especial afeição por seus habitantes. Do you ver o que estava ali acontecendo! De Ijuí fui a São Borja, onde cruzei uma estrutura sob um sol escaldante. Tomei a AR 14, uma Rodovia Federal Argentina, uma Rodovia Federal da Argentina, revendo uma savana de Corrientes e Entre-Rios, com seus espinilhos e algarobos, que sempre me lembram as savanas africanas, dos filmes, só que em vez de antílopes e girafas a gente tem que se contentar com alguns raros ñandús. Também tem aqueles postes de alta tensão com as cabeleireiras e barbas de gravetos, um dos trabalhos das caturritas que ainda não aprendem, com o joão-de-barro, um trabalho com alvenaria. Estes, por sua vez, aqui e ali fazem, nos mesmos postes, casa até sobrepostas, pequenos sobrados, onde assistem poros de sol fantásticos. Nuvens eu nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens nuvens hora. Dormi em Federal, uma capital mundial do chamamé. Não é um passe pela cidade, pois o calor estava insuportável. Eu instalei no Hotel Yatay, pequeno, barato, com ar-condicionado e banho privado. Jantei num restaurante super simpático e muito bem atendido chamado El Yungui, cujo dono, motociclista proprietário de uma monstruosa nua Yamaha de 4 cilindros, recebe com cortez e uma projeção agradável, sobre a política, sobre a paixão e sobre o terror e o tsunami do Por exemplo, iphone. Este é um lugar que vale a pena para quem está na estrada! De Federal tomei o rumo para a Vitória e Rosário, saindo da RA 127 (P de Provincial). Nesta rodovia precisa-se tomar cuidados e ter muita atenção. A falta de cuidado com a dor não dolorosa Desviei a olhar para o segundo para ter o melhor, e desviado, de um enorme buraco. Tratava-se, vi mais tarde, de uma abelha que funcionava na manga da jaqueta. Resultado: sem ter visto o buraco, voamos a moto, eu e o bauleto! Voltamos a ter um outro fim de semana, e ainda um tempo de ver pelo espelho retrovisor. Foi um susto enorme, principalmente porque, dentro do bauleto, o netbook do meu filho acabou de chegar um tombasso! Bem, tanto o netbook quanto o netbook funcionaram com suporte depois do susto. Uma vez que o complemento é suficiente para voltar ao asfalto com elegância e equilíbrio. No mais, atravesse pela magnífica ponte Nuestra Señora del Rosário, no Rio Paraná, com um vento de mais de 60 km por hora, que um pouco mais adiante desvaneceu em uma tromba d'água entre Rosário e Casilda, cidade onde acabava de ficar para fugir da chuva. É uma segunda vez que esta ponte, sem as condições de tirar uma foto, ela e as pantanais do delta do Paraná, em muito parecidos com os nossos estados de MT e MS. A primeira foi de 4 anos e embaixo de chuva fortíssima. Em Casilda, hospedado no Hotel Cuatro Plazas, um pouco mais luxuoso, cujo preço da diária corresponde a um hotel bem mais simples no Brasil (ficou em R $ 140,00) pude dar uma pequena volta pela cidade, que tem 4 magníficas Praças no Centro, de onde saiu o nome do hotel. Por favor, faça um passeio na praia ou faça um retorno ao hotel. Casilda merece retorno, pois parece ser muito agradável, é bem arborizada e tem uma urbanização impecável. No dia seguinte, quase sempre acompanhada, seguiu viagem sem sobressalentes até Trenque Lauquen, quase na Província de La Pampa, onde foi feita pelo Beto de Trenque, irmão Brasil Rider, por sua esposa e filhos filhos de Tomáz e Luzia, crianças super Simpáticas e educadas que adoram uma gieta, tanto que acabam por ser trocadas de moto com o objetivo de fazer um passeio pelo parque da cidade. Ele na G 650 GS, com o filho na garupa, e eu com uma pequena trilha chinesa de 200 cc, sem freio na roda traseira, sem ponto morto e sem retrovisores! Uma aventura e tanto, mesmo andando a 40 km / hora! Em Trenque me hospedei no hotel que tem o nome da cidade. Um quarto térreo, antigo, com uma sala de  desayunos  que parece ter saído do mesmo por uns 50 anos atrás. Não é apenas uma sala, como também o proprietário (ou gerente) e os freqüentadores habituais que a noite se reúne para assistir futebol. É uma coleção da terceira idade que me integra com gosto, pegando a cerveja e os refrigeradores com as portas de madeira. Por causa de uma sucessão de tragédias no Japão, agora com a ameaça de um tremendo desastre nuclear. De Trenque Lauquen para Neuquén foram 714 km rodados das 8:20 horas da manhã às 17:30 da tarde por estradas em geral muito boas e desérticas, mas com algumas partes em reforma e pequenos trechos urbanos com semáforos. Por rodar, rodar por toda a Argentina, não tem nenhum problema com os policiais, como antigamente acontecia. Em todos os postos, e muitos, sempre fui bem tratado, além de orientado com cortesia e presteza. Da metade do caminho em frente (Puelches) andei brincando de gato e rato com uma chuvinha ameaçadora que nunca conseguiu me pegar de jeito. Rodei quando podia a 140 km / h, nos bons trechos, compensando aqueles em não tão bom estado. Um moto se comportando de forma admirável. Só complique o grande Neuquén (Cipoletti, Neuquén e Plottier), Em Plottier encontrei Marcelo Chandia, outro Brazil Rider, que havia nos reservado o Hotel Costa Limay (não sem antes ter insistido muito para que ficássemos na sua casa), um espetáculo de hotel a preços bem razoáveis (4 estrelas por cerca de 80 US$ para um apartamento de casal). Digo "nos reservado", porque Martha estava chegando no mesmo dia, via aérea. Marcelo ainda me levou ao aeroporto onde buscamos Martha, ansiosa pela sua estréia como garupa de viajem em moto. Jantamos com Marcelo, sua esposa Cláudia e a filha Daniela, tomando Shneider negra e brindando à amizade! Na manhã fria de Plottier, Martha e eu montamos na Gzinha toda equipada, para irmos para Zapala, com parada prevista em Plaza Huicul  para visitarmos um museu de paleontologia que lá existe. Ao todo uns 200 kilos entre piloto, garupa e bagagem. Passados os primeiros dois ou três kms em tráfego urbano, onde senti minha garupa ainda meio tensa (acho que eu também estava), seguimos como se estivéssemos fazendo isto juntos - rodar de moto - a muito tempo. Em Plaza Huicul, fomos magníficamente recebidos por Viviana, cunhada do BR Marcelo, de Plottier, que trabalha no Museo Carmen Funnes. A exposição do museo é explêndida! Chama mais atenção um esqueleto montado de um Argentinosaurus huinculensis, o maior herbívoro que já existiu, e outro do Giganotosaurus carolinii, o maior carnívoro, paleohabitantes das planícies patagônicas do Cretáceo. Vale a pena visitar o local. Chegamos cedo em Zapala onde decidimos passar o resto do dia e comemorar com pizza e malbec Postales (vinho patagônico muito bom) o primeiro dia de moto de Martha.  Esta cidade não tem muito de especial, exceto pelas calçadas de pedra calcárea cheias de impressões fósseis de conchas, evidência cabal de que a Patagônia também já foi mar. No dia seguinte rumamos em direção à Aluminé, pela estrada que leva ao Parque Nacional Laguna Blanca e depois, pela serra chamada Espinazo de Zorro e pela Bajada de Rahue. O Parque Nacional Laguna Blanca, a uns 30 kms de Zapala, tem um centro de visitantes primoroso, bem atendido por guarda-parque, que permite a interpretação da paisagem lacustre que se descortina logo adiante, com seus cisnes-de-pescoço-negro, flamingos e patos de diversas espécies. Super-especial para nós, que trabalhamos com Parques Nacionais, no Brasil, por cerca de 30 anos. Do Parque Nacional para frente começaram as fortes emoções. Um vendaval varria a estrada que se contorcia por entre montanhas, espremida nos vales, ora em subidas extremamente íngremes, ora em descidas alucinantes. A moto, muitas vezes em segunda ou terceira marcha, empurrando o vento de frente, ou precáriamente se equilibrando com rajadas laterais. Especialmente na descida da Bajada de Rahue (uns 1.200 metros de descida e subida do outro lado), em estrada de rípio, a G 650 GS se mostrou uma moto competente, assim como Martha me surprendeu pela sua coragem.  O vendaval pelo qual passamos para chegar em Aluminé, ocasionou danos nas redes de transmissão, de tal forma que chegamos na cidade sem energia elétrica e, conseqüentemente, sem internet e sem TV. Chegamos em Aluminé ainda peleando com o vento.  Nos hospedamos no Hotel que tem o mesmo nome da cidade. Bom.... muito bom mesmo, principalmente quanto ao restaurante, cuja especialidade são pastas, mas que prepara e serve ótimas trutas e cabritos deliciosos.  Só não havia garagem coberta para a moto. No amanhecer do dia seguinte a Gzinha estava coberta de geada e tivemos que esperar o sol esquentá-la para podermos sair.   O slogan da cidade é "Aluminé te entra por los ojos" e agente só se dá conta disto quando se dirige, como fizemos, ao Parque Nacional Lanin, especialmente com as paisagens no caminho do Lago Ruca Choroy e nele mesmo. A estrada, de rípio, é muito bem conservada, cruzando por localidades mapuches (a maior comunidade da Argentina  com nomes de sonoridade peculiar como Tayñ Rakizuan ou Nienguehual), até chegar ao Lago, com seus patos mergulhadores e neuquenes reales (uma espécie de ganso selvagem elegante e bela).  No Parque percorremos de moto uma trilha, com pedras grandes e soltas, barro, água, raizes de árvores (pehuenes grossos e cheios de piñas - a araucária araucana) onde a Gzinha, como sempre, foi perfeita. Martha mais uma vez me deixou perplexo com sua tranquilidade, inclusive filmando em momentos de certo perigo enquanto eu pilotava preocupado com o que ela poderia estar sofrendo na garupa. A próxima etapa foi seguir para Villa Pehuenia, por asfalto e rípio, com a espectativa de ver a lua cheia (a maior dos últimos 18 anos, segundo nos informaram) às margens do Lago Aluminé. Na noite anterior a nossa partida em direção à Villa Pehuenia, descobrimos que não havia gasolina. Como da última vez que estive por esses lados, tive que amargar uma fila no posto de combustíveis local, à noite e com frio, para abastecer, depois que chegou um caminhão de abastecimento. Menos mal que chegou. Para Villa Pehuenia a estrada  é em grande parte de rípio, margeando o Lago Aluminé, de paisagens mágicas. Em Villa Pehuenia procuramos por algum hotel nas margens do lago, de onde pudéssemos ver o nascer da lua (a tal que os astrônomos estavam dizendo que seria a mais próxima e maior dos últimos 18 anos). Encontramos o Hotel La Balconada, com uma indescritível vista do lago, voltada para o Leste. Extremamente confortável, compatível com muitos dos nossos 4 estrelas, por R$ 120,00 em suite luxuosa. Perfeito! À tarde percorremos de moto, evidentemente, uma área de comunidade Mapuche, com 5 lagos, sendo um mais bonito do que o outro. No final da tarde, experimentando algumas cervejas negras e amargas, artesanalmente feitas com água (cristalina) do Rio Aluminé, assistimos ao espetáculo do nascer da lua ,cujos reflexos no lago pareciam prata esparramada. Não podíamos ter escolhido melhor local para isto! No dia seguinte tentamos subir o vulcão Batea Mahuida que, entretanto, estava coberto de neblina.  Aproveitamos para ir até o Lago Moquehue, por rípio, é claro! Tão bonito como o Aluminé.  Compramos alguns artesanatos pequenos e delicados e nos dirigimos novamente ao vulcão que já estava descoberto. Por um caminho de rípio, com muitas costeletas e alguns buracos e pedras, pudemos chegar até a cratera, em cujo interior há um pequeno lago extremamente azul. A vista que de lá se tem dos lagos Aluminé e Moquehue é, como Martha costuma dizer, explendorosa!!  Nao fossem todas as outras coisas belas e emocionantes que vivemos nesta viagem, só esse dia já teria valido a pena!  A Gzinha continuava se comportando muito bem. Alguém me disse que escolher uma moto é como escolher um sapato. O que serve bem para um nem sempre é o ideal para outro. Acho que achei o sapato perfeito para mim! Martha parece veterana na garupa e tem me ajudado muito como navegadora. Na manhã seguinte fomos para Las Lajas e Chos Malal levando na memória e, até onde é possível, nas máquinas fotográficas, as imagens fascinantes destes locais. Saímos ao nascer do sol sobre o lago e, logo depois, começou uma garoa que nos deixou preocupados, pois a estrada que escolhemos, por Pino Hachado tem quase 50 km de rípio e "camino consolidado", em geral bom, mas com grandes trechos de muita areia e pedras soltas, perigoso, se bem que compensado por paisagens belíssimas, em parte acompanhando um rio correntoso, com as encostas com muitos pehuenes (araucária araucana), em parte acompanhando a fronteira com o Chile por altos vales gelados.Quase chegando em Pino Hachado um conjunto de riscos simultâneos: buracos.... pedras soltas e animais na pista. Depois de Pino Hachado mais uns 150 kms de asfalto, com um vento muito forte no geral, que nos acompanhou até Chos Malal, mas que foi particularmente assustador em um pequeno trecho na parte mais alta, nos obrigando a rodar em segunda marcha, a 20 km/hora e com a moto inclinada!  Só não parei porque não conseguiria manter a moto em pé.  Passamos sem parar por Las Lajas, mas paramos em Churriaca, uma localidade mapuche a poucos kilômetros de Chos Malal, em uma casa que nos pareceu ser um restaurante. A casa era uma antiga escola ocupada agora pelos mapuches, que nos serviram um "guizo de arroz" que, na verdade, era a comida deles, já que no local funciona um posto de saúde e não um restaurante. Uma delícia na sua simplicidade e sabor. Em Chos Malal nos hospedamos em La Farfala, pousada onde eu havia ficado na viagem do ano passado e fomos recebidos com muito carinho e amizade pelos proprietários e seu filho. Para nós La Farfalla é como se fosse a nossa casa, tão à vontade nos sentimos ali. No dia seguinte fomos às lagunas do vulcão Tromen, onde eu já tinha tentado chegar no ano passado, sem êxito por conta da neve que havia caído abundantemente. Duro caminho de rípio com "serrucho" (costeletas), pedras soltas, buracos e, aqui e ali, alguma água cruzando o mesmo. Além de tudo um vendaval gelado, apesar do sol forte. Sacrifício que valeu a pena pela paisagem e pela sensação de estar envolto por forças da natureza... o vento gelado e forte.... o sol ardido...a magnitude do vulcão coroado por neves.... a beleza da laguna com seus cisnes de pescoço-preto.  Para mim ainda a oportunidade de passar na casa de Luiz Rivera, criador de cabritos com quem charlei e tomei uns mates em novembro passado. Ele não estava. O mais provável é que estivesse pastoreando seu gado pelas montanhas. Pude, entretanto,  deixar amarrado na porta de sua casa uma sacolinha, com um pacote de erva mate de Urubici, fotos tiradas em nosso encontro e um bilhete, escrito ali mesmo, cumprindo uma promessa a ele feita. De Chos Malal fomos a Las Ovellas, de ônibus, poupando Martha e moto da estrada que está terrível e em obras (puro "serrucho" e zonas em construção). Sempre subindo, passamos por Andacollo, que é zona de mineração de ouro,com a paisagem toda revirada e feia. Antes desta cidade, e depois dela, a paisagem sempre impressionante e magnífica da Cordillera de Viento. Entre desta cordilheirae a Cordilheira dos Andes , em um vale alto, está a cidade (1.800 habitantes) de Las Ovellas. Pequena, quase sem infra-estrutura hoteleira, tem um povo super hospitaleiro, educado e gentil. As pessoas nos cumprimentavam ao passar e sempre faziam algum comentário agradável. Sem internet, só um restaurante que só abre as 21 hs, e nada para fazer, nos restou  dormir cedo, para poder sair de madrugada com um guia que contratamos, com sua camionete 4X4, no rumo do Vulcão Domuyo, na verdade uma montanha sem cratera, mas com muita atividade vulcânica que muitos temem que, num dia qualquer, se torne um verdadeiro vulcão.   Seguimos para o Norte, passando por Varvarco, uma pequena cidade mais próxima de Domuyo. Chegamos de camionete a El Playon, a poucos metros do acampamento base do Domuyo. Visitamos zonas de geysers e fumarolas, e de fontes termais. Rodamos por lugares impressionantes, ora pelas formações rochosas, ora pela imensidão da paisagem. Deslumbramos-nos com as cores, com as formas, com o inusitado de ver águas quentes e vapores saindo da terra a poucos metros da neve e com a surpresa de encontrar, nos lugares mais inóspitos, gente com seus rebanhos, aproveitando os últimos pastos do verão. É nestes lugares que sentimos aquela sensação de pequenez e fragilidade do homem, ante a imensidão da natureza, e contraditoriamente, a sua grandeza, na sua capacidade de adaptação e de transformação do ambiente.  É ali que a gente percebe de maneira clara e cabal o quanto podemos, e que deveríamos usar nossas capacidades para conviver melhor com a natureza. No retorno a  Chos Malal, um maravilhoso almoço oferecido por Don Alberto, sua esposa Fitty e seu filho Francisco e  companheira Romina: um chivito assado (prato típico de Chos) acompanhado por malbecs da região. Na sexta-feira (25 de março), à noite, dei uma passadinha no único posto de combustíveis que está funcionando em Chos Malal ,para completar o abastecimento da moto, pois haviam me avisado que recém havia chegado a "nafta" que estava em falta. Como aconteceu no ano passado, tive que entrar em uma fila. Logo começou uma chuvinha incomoda e fria que me fez abandonar a fila e voltar para a pousada. Enfim tinha combustível suficiente para ir até Las Lajas, uns 180 km adiante, e não precisava ser tão prevenido assim. Jantamos com a família dos proprietários da Pousada La Farfalla. Foi difícil a despedida. É sempre difícil despedir-se de bons amigos. Difícil também fazer o acerto de contas, pois não queriam cobrar muitas das despesas que fizemos, colocando-as na categoria de ofertas de amigos ( e aí tinha de tudo: uma diária, várias garrafas de vinho, várias doses de whisky, muitas refeições, etc.). Martha acabou conseguindo um acordo para não causar prejuízos, já que se trata do negócio deles. A parte que não queriam cobrar foi rateada meio a meio! Saimos de Chos Malal no dia seguinte, numa manhã muito fria, mas ensolarada, vendo que à tal chuvinha tinha correspondido uma forte nevasca nas montanhas do entorno, entre elas o Tromen e o Wayle, que estavam completamente brancos, e belos. Se tentássemos então ascender à laguna que fica entre eles, como o fizemos logo que chegamos à Chos Malal, não conseguiríamos! Por falar neste lugar - a laguna - aonde chegamos sob um fortíssimo vento e rodando num caminho bem difícil, foi lá que me dei conta de que já estava tendo com a Gzinha a mesma cumplicidade que tinha com La Negra, a XRE 300 da Honda, com a qual tentei chegar no Tromen em novembro do ano passado. Bem, deve ter sido ilusão provocada pela altitude, ou pelo vendaval,  mas sou capaz de jurar que naquela ocasião a BMW piscou para mim! No caminho para Las Lajas, a medida que o dia corria, a temperatura foi baixando, a ponto de causar um enorme desconforto. Só não parei para desmontar a bagagem e pegar mais agasalhos porque mantinha alguma esperança de que o sol acabasse esquentando as coisas. Puro engano, quando chegamos em Las Lajas as montanhas bem próximas, à Sudoeste, sustentavam sobre elas uma nuvem cinzenta, escura, da qual se desprendia uma nevasca que paulatinamente foi pintando tudo de branco. Gelados, acabamos parando em um posto de combustíveis, muito mais para nos abastecer com café quente, do que abastecer a moto com "nafta". Só depois de nos esquentar e conseguir mover os dedos das mãos, retomamos o caminho para Zapala, onde passamos a tarde e a noite. No dia seguinte rumamos para Plotier. No domingo ao meio dia, em Plotier mais uma vez, procuramos, sem nenhum resultado, por um restaurante aberto. Segundo Martha eles devem "fechar para o almoço".  Acabamos comprando em um pequeno empório, um ótimo salame, queijo, pão sírio e vinho Garras, malbec roble, safra 2005, produzido quase que artesanalmente em uma pequena "finca"  de Coquimbo, no vale do Maipo, Mendoza. Pena que a produção deste vinho, pequena, não permita exportá-lo para o Brasil! Almoçamos no Hotel Costa Limay, onde estávamos hospedados .  Perfeito! Melhor do que ter encontrado um restaurante aberto! A noite mais uma despedida daquelas! Marcelo, Cláudia e a pequena Dani, de Plotier, nos convidaram para jantar e nos deram presentes. Um deles, uma táboa de queijos, foi feita pela Dani. No dia seguinte, bem cedo Martha pegou um vôo para Buenos Ayres/ Porto Alegre e Floripa. Quanto a mim, peguei a moto e iniciei a volta, procurando novos caminhos que me levassem a paisagens ou locais que ainda não conheço. Com 7 a 10 dias para o retorno me abre um bom leque de possibilidade, mas confesso que o ápice desta viagem foi o período passado na cordilheira e que já começava a dar uma saudade de Urubici. No retorno, meu primeiro objetivo foi chegar ao Parque Nacional Lihuel Calel, entre Puelches e Sta Rosa. O parque ainda mantém alguma fauna interessante e se pode ver alguns guanacos e choiques (o ñandú de pernas mais curtas da Patagônia e da Pampa), mas o que impressiona são as formações rochosas que parecem grandes sorvetes se derretendo. A planície entre Gen. Roca e Sta. Rosa em alguns momentos proporciona aquela sensação de liberdade total. À frente e atrás, de um lado e de outro, parece que o mundo se resume a essa planície imensa, mal forrada de gramíneas e mínimos arbustos..... A gente tem a impressão de que vai levantar vôo, bastando respirar fundo ou acelerar um pouquinho mais a moto! Em Sta Rosa, a conselho de um proprietário de uma b ela Yamaha Virago super-bem conservada, me hospedei no Hostal Rio Atuel, perto do Terminal Rodoviário. Simples, baratíssimo e bem atendido, fica próximo da Igreja Nsa Sra de Fátima, cujo campanário me despertou tocando música agradável às 8 hs da manhã. Vale a pena ali se hospedar para ouví-lo. De Sta Rosa foi uma tirada só até Mercedes, cidade grande e movimentada onde fiquei no Hostal del Sol, com certo luxo, bom atendimento e preço irrizório (R$ 60,00). Beleza! Tomei um caminho tortuoso para evitar o transito periférico de Buenos Ayres e seguir para Zárate, onde atravessei o Rio Paraná por um sofisticado sistema de pontes. Essas pontes não têm a beleza arquitetônica daquela que atravessa o mesmo rio em Rosário, mais à Oeste. De qualquer forma impressionam pela sua engenharia, sendo também obras magníficas. Um pouco mais ao Norte, pela Rodovia Nacional 14 (uma auto-estrada de duas pistas de cada lado, com muitos trechos em obras), visitei o Parque NACIONAL las PALMAS, com sua extranha paisagem formada por palmares extensos de Yatay, que nós conhecemos por butiá.  As estradas internas do parque são de rípio e areia bem soltos que acabaram proporcionando o meu primeiro tombo com a GZINHA....  Tudo ficou bem com a moto e comigo, apenas um dos bauletos laterais ficou todo raspado. Dormi em Concórdia, às margens do Rio Uruguai. A cidade de Salto/Uruguai fica do outro lado do rio. Concórdia tem 200.000 habitantes, e é bem movimentada. O centro parece uma pequena Madrid, com seus bares, restaurantes e cafés com mesas nas calçadas. Num deles comi costeletas à la parrija, com batatas fritass, cerveja Quilmes e tv passando um jogo, de futebol, é claro!  Só para contrariar e movimentar o bar torci para o Peñarol, time uruguaio que enfrentava um rival argentino, pela Copa Libertadores de América. Foi bem divertido e o pessoal que estava ali entrou na brincadeira! Alguns até pensaram que eu era uruguaio! E não é que o Peñarol venceu! Cheguei em Paso de los Libres logo após o meio dia, para saber que as lojas só abririam depois das 16 hs. Eu havia me esquecido do costume de “hacer la siesta”.  Querendo adiantar a viagem, não esperei abrirem as lojas, cruzei a fronteira, passei por Uruguaiana e acabei dormindo em Sto Angelo, RS, terra de meus antepassados maternos, onde fui maravilhosamente recebido e hospedado pelo Gilson Miranda, Master Brazil Rider, sua esposa Carmela e as filhas Polyana e Bibiana. Uma última etapa de 750 km e estava em casa, em Urubici, SC, satisfeito, feliz, mas bastante cansado, o que não me impediu de já começar a pensar em uma nova viagem! Entre esta e a anterior, visite conhecer os lagos Argentinos e Chilenos, muito procurada por turistas, e ao Sul de Mendoza, a passagem obrigatória para quem viaja a Santiago do Chile. O centro e o norte neuquino não fica nada mais que as interfaces mais conhecidas e visitadas. Além disso, pode-se manter o esforço do país e da região para melhorar a infra-estrutura viária e de atendimento ao turista. Acreditamos que Alimenté  , Villa Pehuenia, Caviahue, Copahue ,  Varvarco  , Bariloche, San Martín de los Andes, Villa Angostura, Mendoza ou Córdoba.

Viagem a Província de Neuquén (AR)

RELATO DE VIAGEM À PROVÍNCIA DE NEUQUÉN - ARGENTINA (26/10/2010 a 16/11/2010) (Muito mais “crônicas de viagem” do que “relato”)  Por Jordan Wallauer                                                                           P ilotar moto, isto foi o que decidi aprender quando fiz 60 anos, pois até então só sabia andar de bicicleta. Assim, meu presente aniversário e de Natal de 2008 foi uma Yamaha YBR 125cc, com a qual rodei exatos 550 km para aprender alguma coisinha sobre motos. No Natal de 2009 troquei esta moto pela Honda XRE 300cc, que carinhosamente chamo de La Negra, com a qual rodei 1.000 km (dois tombos incluídos, um bem doloroso) para fazer a primeira revisão, após o que viajei, em abril de 2010, para Montevidéu, acompanhando meu irmão Jonas, que tem uma XT 660. Pronto, isto bastou para me viciar nesta coisa de viajar, fazendo parte da paisagem e não ficar vendo a paisagem pela janela do carro, como diz o Cícero Paes.  Logo após a viagem à Montevidéu começamos a planejar, para outubro/2010, uma viagem à Cordilheira Argentina, entre Bariloche e Mendoza. Ao Norte de Mendoza e ao Sul de Bariloche já havíamos viajado de carro e conhecíamos razoavelmente bem. Iríamos, os dois irmãos, de moto e as esposas de carro ou avião para nos encontrar em Chos Malal. Jonas, entretanto, teve que ser submetido a uma cirurgia de redução de hérnia e Martha, minha esposa, precisou acompanhar, no Rio de Janeiro, uma irmã que também teve problemas de saúde. Adiei por duas semanas a viagem à Argentina, tendo ido ao Rio, solidário com a cunhada. Assim que tudo entrou na normalidade retomei os planos e, mesmo sem perspectiva de ter companhia, dei início à viagem, no dorso de La Negra.  Saí de Urubici, desci a Serra do Rio do Rastro e rumei ao Sul. Pernoitei em Arroio dos Ratos, RS, cidadezinha que conheço faz muito tempo, na época em que devia ter uns 2.000 habitantes que viviam em casinhas espalhadas em uma área enorme. Um gritava e o vizinho não ouvia. Diziam que usavam rojões para se comunicar. Nem todos, é claro: o padre usava o sino da igreja! Hoje são uns 14.000 habitantes ainda bem espalhadinhos, mas já não precisam gritar alto para serem ouvidos pelos vizinhos. No tempo dos 2.000 habitantes as casas tinham cercas baixinhas, suficientes para demarcar a área de cada um, algumas com roseiras, dálias e buganvilles e eles viviam e morriam com tranquilidade e segurança. Não mortes sem sofrimento, pois em zona de mineração de carvão, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina ou na Inglaterra, aí pelos anos 70, se morria muito de pneumoconiose, mas não com medo de assalto, assassinato, drogas e traficantes. Tá certo, alguma concessão para brigas de bêbados, e consequentes facadas, em carreiras de cavalos; ou lavação da honra nos casos de traição.                                                                              N os dias atuais, dos 14.000 habitantes, as casas estão todas cercadas por aramados e grades de mais de 2 metros de altura, algumas com arame farpado, e fios eletrificados acima disto, como substitutas para as flores. Não se morre mais de pneumoconiose, mas de infarto, de stress, e se vive com depressão, com nó na garganta e com a Espada de Dâmocles do medo de assalto, etc. sempre pendendo sobre a cabeça! Acho que é por isso que escolhi morar em Urubici, SC, cidade que me lembra de um Rio Grande onde nasci e cresci, sem medos, e que parece não mais existir. Cheguei de moto, após meus primeiros 1.000 km, em Livramento, RS, na fronteira mais irmã que existe, onde fui devidamente acolhido pelo Kojak, irmão Brazil Rider, que em pouco tempo providenciou o seguro Carta Verde, troca do bagageiro por uma base de verdade para o bauleto (a original da Honda, de plástico, só tem efeito decorativo) e hospedagem... em um motel, porque os hotéis estavam lotados. Todo mundo parecia ter ido à Livramento/Rivera, com a proximidade dos feriados, para fazer compras.Se eu pedisse aos BRs da área, até companhia para desfrutar o pernoite no motel eles acabavam providenciando!! Os BRs de Livramento, Kojak e Ronaldo (Mutukão), são super- hospitaleiros! No dia seguinte tomei o rumo de Colonia de Sacramento, no Uruguai. Fui parado por conta de uma tempestade e acabei dormindo em Rosário, a 50 km de Colônia. Chuvas torrenciais a noite toda antecederam um dia claro e ensolarado, que permitiu chegar cedo em Colonia, a tempo de embarcar no Buquebus da 11:30hs para Buenos Aires. Atravessei Buenos Aires com um vendaval tentando me tirar da autoestrada que leva a Ezeiza, que só amainou perto do aeroporto internacional. Acabei rodando até Saladillo, cidade plana, agradável, onde fui muito bem acolhido por Omar e sua esposa Chuchi, no Hotel Trafful. No dia seguinte, pilotei até General Acha, na entrada do chamado “Deserto Argentino”. General Acha e uma cidade bem bonita, de ruas muito largas, sem um só prédio de 3 andares; no máximo algum sobrado. As casas tem canteiros com rosas imensas, parecidas com aquelas importadas da Colômbia que vendem nas floriculturas brasileiras, só que de varias cores. Em Gen. Acha, ao final da tarde dos domingos, todos os meninos(as) e adolescentes da cidade, às centenas, saem para as ruas, param nas esquinas para paquerar e encontrar amigos, percorrem a avenida principal a pé ou em motos... centenas delas e de todos os tipos, predominando as chinesinhas entre 100 e 200 cm3 e quadricíclos. Eles por baixo e centenas de papagaios barranqueiros por cima, vindo das áreas agrícolas para dormirem nas antenas de televisão que, por força da planície, tem que ser construídas sobre torres e hastes bem elevadas, protegidos de predadores pela urbe. As antenas se transformam rapidamente em cabides de psitacídeos gritadores, que concorrem em ruído com a zoeira das motos. Desde que sai de Livramento/Rivera viajei com fortíssimos ventos laterais. Sempre imaginei que fossem de ocorrência frequente nessas regiões tão planas, mas não tão intensos a ponto de fazer a moto andar em S todo o tempo, pelo menos a cada vez que o velocímetro marcava qualquer coisa acima de 80km/hora. Ao ver, entretanto, o noticiário na TV, notei que o vendaval que assolou a Argentina teve quase tanta ênfase quanto o enterro do Nestor Kirschner, cuja morte ocorreu uns dias antes. E foram muitos os acidentes, e mortes, provocados pelo vendaval! Por falar no assunto, escutei no noticiário que os políticos daqui estavam se fazendo “preguntas interrogativas” sobre como será o governo de Cristina sem a presença de Nestor Kirschner. A expressão, a principio redundante, só tomou sentido quando comecei a meditar sobre ela. A partir de então resolvi adotá-la em português também, por que entendi que ha perguntas simples, como “Tu podes me dizer que horas são?”; e há perguntas interrogativas, que botam a gente na parede, como “Tu podes me dizer o que fazias entre 20 e 24 horas de ontem?” De Buenos Aires ate Gen. Acha a paisagem, monótona, alterna, na primavera, planícies de trigais ceifados ou por ceifar, terras aradas para serem semeadas com milho, girasol e soja, pastagens repletas de gado que no Brasil só se vê em exposição. O gado tipo exposição deles eu nem imagino como seja! Uma coisa, entretanto, eu posso afirmar, baseado na experimentação quase científica (faltam mais umas 1000 amostras para chegar ao caráter científico, mas eu chego lá!): o gado é ótimo, “sea a la parrilla o a la plancha!”                                                                                    C heguei enfim em Chos Malal, depois de 2 dias de travessia do deserto, uma savana arbustiva, atravessada por uma perfeita estrada compostas por 10 ou 12 retas interligadas por curvas tão suaves que a mão do motociclista não muda de posição para contorná-las. A monotonia, entretanto, é tal que a gente começa a divagar e facilmente perde a capacidade de manter algum tipo de atenção no asfalto. Num desses momentos acreditei ter visto homens a cavalo no meio dos arbustos, à margem da estrada. Logo após, La Negra começou a oferecer resistência ao acelerador e me fez parar... parar e retornar.... para certificar-me de que não se tratava de alucinação. De fato haviam dois homens montados nos cavalos criollos mais lindos que já vi, e conduzindo outros 3 cavalos magníficos carregados de malas de garupa. Eram trabalhadores campesinos que se deslocavam para Aluminé, onde havia trabalho com gado nesta época do ano. Estavam percorrendo 1.000 km e o faziam como a coisa mais normal deste mundo! Tirei uma foto de La Negra com os cavalos e cavaleiros e juro, não foi alucinação (ou foi?) do deserto, ela deu uma piscada para mim!! Visões maravilhosas, depois de tanta aridez e calor: no meio do caminho um vale (com duas ou três cidades, entre elas 25 de Mayo) muito verde, arborizado, produzindo muitas maçãs e com muitos vinhedos (Bodega del Fin del Mundo, Saurio, etc,). Ao final deste verde pode-se seguir por asfalto até Zapala e de lá ir a Chos Malal. Encurtando o caminho em uns 300 km há uma alternativa (Ruta Prov. 6), com cerca de 80 km de terra e rípio, que conduz a Chos Malal por Rincón de los Sauces. Uns 80 km antes de chegar em Chos Malal jás se vê o vulcão El Tromen, com seu desafio de 3.450 metros de lava e gelo. Chos Malal é uma cidade de 20.000 habitantes, muito agradável, bem arborizada e relativamente protegida dos ventos que constantemente sopram. Não é à toa que a serra que a envolve se chama Cordillera de Viento. Por ela passei, rodando a 40 km/hora, e quase sendo derrubado em cada curva, na passagem para o vale do Rio Curi-Leuvú.  Me hospedei na Hostera La Farfalla. Beleza de lugar com ares extremamente rurais, com galinhas e gansos nos jardins, a 8 quadras do centro da cidade. Alberto, sua esposa Fitty e o filho Francisco são muito hospitaleiros! O banho foi daqueles de meia hora. A janta, perfeita, preparada pelo Sr. Alberto (que já trabalhou em cattering na Branif International), foi lagarto ao forno com batatas doces e abóbora, mais presunto cru (tipo presunto de Parma), queijo regional e palmitos do Equador com molho golf. Vinho de San Juan, Callia Alta siraz-bonarda, sem complicações e perfeito para acompanhar a carne. Encerramos com uma dose de Johnny Walk 12 anos, cortesia de D. Alberto. "Dormi como un angel! ": Nem tive pesadelos com os 80 km de estrada de rípio, com ventos laterais de 40 a 50 km/hora, que percorri através da área de exploração de petróleo e gás (a riqueza do deserto) entre Rincón de los Sauces e Chos Malal. Dois dias depois, bem descansado, pude fazer 140 km de estrada de rípio, em mau estado, viajando para Copahue, via El Huecú. Ainda bem que os ventos tinham amainado um pouco. Em grande parte a estrada se espreme entre uma barreira de onde costumam cair muitas pedras, a julgar pela quantidade delas (de todos os tamanhos) que se espalham pela via, e um barranco abrupto, às vezes bem profundo. Isto faz com que qualquer derrapada possa terminar em um mergulho no precipício, que começa onde devia haver algum tipo de acostamento. Uns 6 kms antes de Copahue a neve se acumulava aos lados da estrada, e muitas vezes tive que usar as botas como esquis, com as pernas esticadas para baixo e para frente, para evitar que La Negra tombasse. Dei graças pelos pneus Metzeler Sahara que a Honda escolheu para a XRE 300. Se eles me deixam na mão em velocidades médias ou altas, no asfalto, com vento forte lateral, na mistura de água, cinzas vulcânicas e gelo, se mostraram bem adaptados. Copahue, a cidade e o vulcão de mesmo nome, estavam ainda embaixo de neve. Todos hotéis fechados. Literalmente fechados pela neve que se acumulava até o meio das janelas. E isto em meio à fumaça com cheiro de enxofre que faz com que Copahue seja um centro de hidro-mínero-terapia (sei lá se isto existe, mas estou tentando dar uma idéia do que seja).  Saí de Copahue e fui para Caviahue, passando por todo o gelo outra vez. Caviahue fica um pouco mais abaixo, à margem do lago de mesmo nome. Dos 180 estabelecimentos de hotelaria que possui, ainda mantinha 4 abertos, neste período que fica entre a temporada de esqui e a de verão. Instalei-me no Hotel do Instituto de Seguridad Social. Fiz uma caminhada de 4 km para ver como estava das pernas e saí atrás do único guia de montanha que está ativo naquela época do ano. Chama-se Charly e não estava nem um pouco disposto a enfrentar as más condições meteorológicas que se anunciavam para o dia seguinte. Sem possibilidades de subir sozinho o vulcão Copahue, resolvi tomar um banho medicinal com cheiro de enxofre no hotel (depois outro, de chuveiro, para tirar o cheiro de pum!) e depois sai para jantar. Jantei num lugar chamado El Quillen, um dos 4 lugares ainda abertos que serviam refeições. O proprietário me recomendou um coelho à mostarda, de gosto bem forte, que degluti com um Ventus Malbec Roble, bem seco e encorpado, que me pareceu muito bom. Voltei para o hotel e fui tratar de dormir. Tive um pesadelo assustador: sonhei que havia um coelho vivo dentro de mim, esperneando de raiva pela quantidade de mostarda que haviam posto nos olhos dele! Acordei à uma hora da madrugada, com a sensação de que o coelho não só estava vivo, como era muito agressivo, e daí até o amanhecer brinquei de rei e servo: um tempo no trono e outro de joelhos na frente do trono! No dia seguinte o máximo que consegui fazer foi uma caminhada por uma das trilhas do Parque Provincial Copahue, uns 8 km que me deixaram completamente esgotado. Valeu pela cascata no final da trilha... linda no meio da neve... uma compensação pela impossibilidade de ascender ao vulcão que, a Oeste, ora apresentava seu topo despenteado por ventos fortíssimos, ora envolvido por uma nuvem negra, dessas típicas de nevasca.                                                                                                 U m dia mais e saí, de manhã, de Caviahue, sobre a qual pesavam cúmulos-nimbus lenticulares imensos, uns se sobrepondo aos outros, anunciando mais neve. Enfrentei uns 250 km de asfalto pra retornar para Chos Malal, evitando o rípio, abaixo de um vendaval durante todo o trajeto (Caviahue-Loncupue-Las Lajas- Chos Malal), um deserto que parece infinito.... paisagem destas que nos fazem perceber o quanto somos diminutos e, ao mesmo tempo, nos sentir orgulhosos por podermos estar alí. Retornando a Chos Malal, tratei de trocar o óleo da moto e o fiz em uma borracharia cujos donos, bem jovens, têm potentes e enormes motos para enduro (450 cc). Além de praticarem enduro, nessas condições extremas de montanhas pedregosas e nevadas, eles são apaixonados por motos. Trataram de La Negra muito bem, inclusive tendo visto que faltava um dos parafusos de fixação do catalisador no quadro.  À noite comi uma sopa de verduras preparada por Don Alberto, ainda parte do tratamento das consequências do ataque do "coelho assassino de Caviahue". Assim, moto e eu bem tratados, nos preparamos para ir às lagoas do Tromen, famosas pelas aves que alí residem (cisnes, patos, flamingos, etc.). No dia seguinte amanheceu chovendo, inesperadamente para todos da região, inclusive para muitos pilotos de planadores de todo o mundo que vão, nesta época, para usufruir dos fortes ventos. Chuva em Chos Malal e neve, muita neve, nas montanhas que a cercam, inclusive no Cerro Wayle e no vulcão Tromen. Desta maneira passei o dia enfurnado em La Farfalla, ouvindo músicas -milongas e chamamés - do Jorge Cafrune (um baita cantante e guitarreiro!) e dormindo. Segunda-feira começou com um céu azul e um sol maravilhoso.... e sem vento!! Levantei eufórico para ir para as lagoas e... pasmem.... a cidade estava sem combustível no único posto que há! Nem uma gota! E La Negra, com meio tanque, não me garantia o passeio que pretendia fazer. Instintivamente, depois de alguma procura sem êxito por particulares e taxis, procurei pela turma do enduro. Essa comunidade de motociclistas nao falha! Em minutos La Negra estava com o tanque quase cheio! Desta forma pude subir as montanhas em direção ao Tromen.  Já nas alturas do Cerro Wayle, com La Negra outra vez patinando em gelo e neve, encontrei Luiz Rivera, um praticante da transumância, essa forma de migração que fazem tangendo rebanhos de pastos de inverno para pastos de verão. Uns 400 km por ano subindo e descendo montanhas. No caso de Luiz, pastoreia cabritos (criação muito típica daqui), seus cavalos criollos e alguns novilhos. Luiz me convidou para um mate e uma charla em sua modesta casa, em um pequenino vale assustadoramente verde no meio de tanta neve, e com ele passei momentos muito bons em que tentei compreender seu modo de vida tão difícil.  Não consegui chegar às lagoas do Tromem. Com roupas de montanha, sem as proteções da roupa de motociclista, perdi a confiança de rodar pelo gelo. Parei onde achei que já estava passando dos limites e, sem trocadilho, me limitei a fazer uma caminhada pela neve do Wayle, deixando La Negra para traz por umas poucas horas. Neste dia três veículos tentaram chegar às lagoas. La Negra, um Ecosport que teve que retornar (antes de La Negra) porque estava derrapando muito no gelo e um 4X4 Land Rover, o único que conseguiu passar a parte mais alta e coberta de neve e gelo do Wayle e descer à laguna que fica entre esta montanha e o vulcão..                                                                                 D e volta a Chos Malal, que continuava sem combustível, comecei a preparar minha ida, no dia seguinte, para Malargüe. Na terça-feira levantei cedo, peguei a moto e fui para a fila do posto de combustíveis. Fila de 4 quadras (haviam duas, uma para cada lado do posto) para abastecer com o combustível que havia chegado pela madrugada. Depois de duas horas, quando faltavam apenas uns 5 veículos na minha frente, avisaram que já não havia mais gasolina. Quase comecei a me irritar, mas prontamente me dei conta de que eu estava ali a passeio, sem compromisso, e que nas duas horas em que estive na fila não perdi tempo. Aquelas foram horas de reflexão, muita coisa sobre os transhumantes, sobre a paciência e persistência com que conduzem seu gado pelas montanhas. Muitas vezes vai um ou dois homens à frente, a cavalo, tocando lentamente o rebanho. Um ou dois kms atrás vai a mulher, também a cavalo ou em uma mula, puxando outros cavalos e mulas com malas de garupa, e com crianças. Fiquei me perguntando sobre o porque escolheram esse diferente e difícil meio de vida.  Em La Farfalla esvaziei o tanque da moto com uma mangueira para saber exatamente quanto ainda tinha e até onde podia chegar: 4 litros! ... Com cuidado podia ir até Buta Ranquil, se continuasse sem vento. Talvez ali ainda tivessem gasolina no também único posto da cidade... Foi o que fiz, e deu certo! Em Buta enchi o tanque e me mandei para Malargüe! Ao todo 250 km de distância... com uns 150 de asfalto em péssimo estado, 60 dos quais substituído por rípio. Desses, 20 km me permitiram rodar a mais ou menos 60 km/hora. Os outros 40 km foram um verdadeiro sufoco. Partes com rípio em camada muito espessa e solta, outras com buracos que o vento cobre com um pó muito fino, onde as rodas afundam. Há extensos trechos cobertos por uma grossa camada desse pó, onde a gente tem que andar pateando para manter a moto em pé! Levei uma hora e meia para fazer esse esses perigosos 40 kms. É bem verdade que parei muitas vezes para fotografar. Entre Chos Malal e Bardas Blancas, especialmente, a terra expõe suas entranhas de diversas cores (negro, tons de cinza, amarelos do citrino ao ocre, vermelho, roxo), forçada que foi por convulsões sísmicas e pela atividade vulcânica. São rios de lava solidificada; montes de pedras arredondadas evidenciando ora o leito de uma geleira, ora uma morena; marcas de erosões profundas feitas pelo vento, ou por rios e geleiras que já não existem mais, e rios de água de degelo que ainda correm se espalhando nos vales ou, como o Rio Negro, em alguns trechos aprisionadas em um cânion de lavas vulcânicas, tão estreito que não tem mais do que uns seis metros de largura. Tudo é muito vasto, intenso, superlativo, magnífico, espetacular! Percorri esse trecho devagar, tanto pelo estado da estrada, como pelo meu estado de espírito. Eu o percorri como quem reza! Uma longa e profunda reza em agradecimento por ali estar e por ter consciência da magnitude da formação de tudo aquilo! É assim que sinto a presença de Deus!                                                                                           M uitas pessoas precisam se curvar de joelhos, dentro de um templo, em frente a um altar, para sentirem a presença de Deus. Descobri que meu altar é o mundo e sua natureza! Preciso me movimentar por ele, com vento na cara, com sol, com frio, com chuva ou neve. Preciso percebê-Lo com todos os meus sentidos. E foi assim que compreendi o modo de vida dos transhumantes! Mais pastores transhumantes encontrei pelo caminho até Malargüe, e alguns outros depois, no Vale de Las Leñas. Passei por eles acenando e deles recebendo acenos e sorrisos e algum grito cordial. Já não os via como pessoas diferentes. Os via como meus irmãos... irmãos de fé! Malarguë é plana, bem planejada, tem um parque municipal que preserva parte da história da cidade e da região, além do observatório astro-físico mundialmente conhecido e respeitado e do planetário moderno, com projeção digital. Não muito distante, as formações geológicas conhecidas como Castillos de Pilcheira merecem uma visita (por estrada de rípio). Na despedida de Malargüe jantei um maravilhoso cabrito assado, e terminei a noite formando um insólito quarteto com o garçom (Cláudio) que serviu o assado, um velho hippie australiano, mochileiro, meio desdentado (Ronald... apaixonado por Pirinópolis/GO) e um técnico (Nico) de uma das empresas que exploram petróleo na região. Fomos ao cassino local e aí entornamos umas três garrafas de Elementos - Malbec - da bodega El Esteco, de Cafaiate, Salta. Perfeito! Um vinho para não ser esquecido! Se eu tivesse tomado deste antes, acho que nem teria experimentado os outros. Nico e Cláudio parecem pessoas completamente diferentes. O primeiro ganha uma fortuna, o segundo vive de gorjetas e de lavar pratos. Ambos, entretanto, tem coisas em comum: são separados das mulheres e tem filhos, além de serem viciados em jogo e serem muito hospitaleiros. Quanto a mim e a Ronald, nos une a idade e o fato de sermos estrangeiros. A hospitalidade dos mais jovens os fez convidar para esticar a noite no cassino. Nico ganhou em uma das máquinas caça-níqueis e pagou a conta. Melhor não podia! Na estrada para San Rafael conheci um casal que foi empurrado pelo vento para fora da estrada. Eles estavam em uma camioneta Kia, 4X4!! Mais tarde, encontrei um colega motociclista que, rodando a 120 km/hora em uma 250cc, foi levado para o acostamento (de grama, como é comum em La Pampa) e acabou caindo com a moto. Por sorte depois de ter conseguido reduzir a velocidade. Estava meio ralado, mas inteiro! Quanto a mim, percorri uns 400 km em grande parte a menos de 80km/hora, pois assim mandava o juizo (ou os anjos da guarda). Cheguei em San Rafael numa quinta-feira, tendo saído de Malargüe e passado por Las Leñas. Quanto a San Rafael, é uma cidade grande e, tal como Malargüe, tem mais motos do que carros. Em Malargüe predominam motos de baixa cilindrada (até 200 cc) com uma preferência por duas trails chinesas, uma delas montada pela Motomel da Argentina. Em San Rafael predominam as scooters, mas há de tudo! San Rafael tem mais de 40 lojas que vendem motos! Só na avenida principal contei 27! San Rafael tem uma praça muito bonita onde, à noite, passeiam casais, jovens e velhos, e possui um comércio extremamente ativo. Alí andei procurando por um CD do Larralde e por alguma coisa folclórica... assim mais tipo chamamé. O cara da loja me disse que não tinha, mas que se eu esperasse um pouquinho ele podia produzir os dois..... e assim, pirateadamente, sai da loja com os CDs que eu queria. Impostos absurdamente altos para cobrir os custos de uma política extremamente paternalista (e populista) criaram, na Argentina, essas formas de manter a economia em giro. Cheguei em Realicó, a caminho de Buenos Aires, debaixo de um calor dantesco (36º C... e vento) nesta Pampa de Diós! O dia anterior foi dia de El Gauchito Gil! Muita festa e procissão em Mercedes, Corrientes. No creo en.... pero que las hay...! Um tanto por isto, um tanto porque me agrada a idéia de um santo pagão, que foi morto porque não queria lutar em uma guerra entre irmãos, e porque só fazia o bem (curas, etc.), deixei uma flor vermelha em um dos tantos altares ao Gil que se encontram na estrada. Também prometi amarrar uma fita vermelha em La Negra, assim que chegasse em casa. É uma das minhas formas de contar com ajudas extras (uns chamam de anjos da guarda). Juntei El Gauchito assim aos dois ou três da guarda pessoal do Rui Bittencourt (gentilmente cedidos por ele para me acompanharem – www.ruibittencourt.com.br ) para me sentir bem fortalecido e tranquilo para seguir viagem. A cada dia vou me sentindo mais à vontade em La Negra e me ajustado às suas qualidades e limitações. Bueno, de Realicó fui para Lobos e, conforme planejado, atravessei Buenos Aires no domingo pela manhã, indo direto ao Porto Madero para pegar o Buquebus das 12:30 hs. Travessia tranqüila do Rio de La Plata. Eu na Classe Turista e La Negra, devidamente amarrada, na bodega de veículos. Resolvi permanecer o resto do dia em Colonia de Sacramento, bem mais simpática do que as opções mais adiante (Flores, Durazno, etc.). Para me despedir de terras castelhanas, jantei um cordeiro a la parrilla (muito bom mesmo) e tomei um tannat San Rafael, uruguaio. Não errei no vinho, acho que a uva tannat é a única que dá um vinho de boa qualidade no Uruguai, assim como a gente quase nunca erra quando pede um malbec na Argentina, ou um carmenére no Chile.                                                                                   N a segunda-feira fiz o percurso até Livramento/Rivera. Breve visita ao Brazil Rider Kojak que já me havia recebido muito bem na ida, umas poucas comprinhas (não cabia muito mais no dorso de La Negra), pizza com cerveja e um bom sono para seguir adiante no rumo de casa, no dia seguinte. O trajeto de São Gabriel a Guaíba foi feito em boa parte na companhia do simpático casal Vinícius Manarte e Lavínia, BRs de Guarapari, ES, que bem instalados na sua Varadero fizeram com que La Negra se esgoelasse toda para acompanhar o tranco deles.Daí para frente: dormi em Osório, RS e haja chuva e temporal para chegar a casa na quarta-feira.  Martha havia saído do Rio de Janeiro pela manhã e encontrado com nosso filho Jader e com Dani, sua esposa, no aeroporto. De lá vieram direto para a Serra Catarinense para me esperar. Foi ótimo ser recebido por eles! Em casa soube que o Ronaldo Mutukão, de Livramento, e o Pancho, BRs também, estiveram hospedados no Refúgio do Gaudério. Deixaram um bilhete super simpático e uns adesivos de recuerdo. O Refúgio é um espaço que temos para receber amigos viajantes motociclistas, com banheiro com calefação, quarto, churrasqueira, etc. Por falar nisto está à disposição, é grátis, bastando combinar com um pouquinho de antecedência para não ocorrer overbooking!De mais a mais, devolvi os três anjos da guarda pessoal do Rui Bittencourt, com meus sinceros agradecimentos. Acho que um deles voltou meio depenado, e pelo menos um dos outros dois chateado com a discussão teológico-filosófica que andou tendo com um tal Gauchito Gil. O terceiro ainda deve estar dando gargalhadas por conta disto! NOTAS DE VIAJEM: Hotéis que recomendo – Em Colonia de Sacramento, Uruguai, o Hotel Royal, cuja proprietária tem um filho motociclista e viajante, dono de uma Varadero super-equipada, e que valoriza nossa turma. Em Saladillo, Província de Buenos Aires, AR - Hotel Saladillo – por US$ 35,00 a gente fica muito bem hospedado.. Em General Acha, La Pampa, AR – Hotel Traful –Omar e Chuchi, os proprietários sabem receber bem. O hotel é pequeno, limpo, confortável e barato. Em Chos Malal, Provincia de Neuquén, AR – Hostal La Farfalla – onde a gente se sente em casa e membro da família. Beto e Fitty além de tudo cozinham muito bem e Fran, o filho, é muito prestativo e amigo. Em Caviahue, Prov. de Neuquén, o Hotel do Instituto de Seguridad Social é bom, bonito e barato, além de ter instalações para banhos medicinais de águas sulfurosas. Em San Rafael, Província de Mendoza, AR – Hotel Jardin. – parece com pequenos hotéis espanhóis com pátio interno, com fonte e estátuas romanas - tudo de bom por um preço muito baixo. Em Osório, RS, Brasil – Hotel Ibiama – ao lado da BR 101 – confortável, limpo, bom café da manhã e muito barato. Hotéis que não recomendo – Hotel de Turismo, em Malargüe, AR, com péssimo atendimento e caro para o que oferece. Hotel Cruze el Desierto, no meio do nada da pampa árida patagônica – 120 km mais adiante, em 25 de Mayo tem opções melhores, mais agradáveis e baratas. Hotel Petit, em Lobos, baratíssimo, mas sujo e infestado de baratas!Contradição argentina digna de nota: Chos Malal, uma cidade tão ao lado de área de intensa exploração de petróleo, com 20.000 habitantes, só tem um posto de combustível que, esporadicamente, fica sem combustível. A opção mais próxima está a cerca de 100 km e nada garante que tenha, já que é abastecida pela mesma distribuidora. Observação final: Chos Malal e arredores, aí incluindo o caminho em direção ao Vulcão Domuyo e as localidades rurais a lo largo ya lo ancho , também as pequenas cidades de Caviahue / Copahue, merecem retorno. Villa Pehuenia e Aluminé, localidades não muito distantes (uns 300 km), que não se encontram, despertaram a minha curiosidade, da mesma forma que as cercanias do Vulcão Domuyo. Mais uma viagem para essa região, e melhor!

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