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Relato de viagem
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15 Motos e um Destino: Valparaíso, no Chile

REVISTA DUAS RODAS N 195 – NOVEMBRO – 1991   A CARAVANA PASSA... ... COM 15 MOTOS E UM DESTINO: VALPARAÍSO, NO CHILE. ERA A REALIZAÇÃO DE UMA IDÉIA DE WILLIAM DAMS, MECÂNICO DE FLORIANÓPOLIS (SC). CONFIRA.         Quando ficou sabendo que uma caravana de 15 motociclistas iria fazer uma viagem de Florianópolis (SC) à Valparaíso, no Chile, o veterano aventureiro João Gonçalves Filho, o Gau, apostou com o idealizador da idéia, o mecânico William Robert Dams, sete caixas de cerveja como muitos desistiriam no meio do percurso e só poucos chegariam ao destino final. João, com muitas aventuras no currículo – entre elas a pioneira viagem de Manaus (AM) à São Paulo pela Transamazônica pilotando uma Harley Davidson 1200, publicada em DUAS RODAS N 16, de 1976 – já tinha até um lema para essa aventura coletiva: "como não viajar de motocicleta". Mas 15 dias depois da partida, ele havia perdido a aposta.                   A idéia de reunir a caravana surgiu num dos churrascos diários de fim de tarde na oficina de William, em Florianópolis. Freqüentada por muitos motociclistas, a oficina passou a ostentar, na entrada, uma placa – destas usadas para sinalização a pilotos em provas de automobilismo e motociclismo. Começava então uma contagem regressiva para a viagem. O número de dias que faltavam para a saída era mudado diariamente. Começou com 166.                 COMER COXA DE GALINHA         Aos poucos, muitos interessados na viagem foram sendo relacionados por William. O empresário João Gonçalves Filho, que até então estava cético quanto ao sucesso do projeto, comprou uma moto quando faltavam 3 dias para a saída: uma Kawasaki Ninja ZX-11, que veio buscar em São Paulo (SP). Há dois anos longe do guidão, João se assustou de início com a Ninja e nas avenidas paulistas tratou de rodar com todo cuidado – "toda hora era ultrapassado por Honda CG 125", conta ele – até se acostumar com a máquina.           Mas para quem já atravessou a Transamazônica de Harley e foi até Ushuaia, no extremo Sul do continente, de Honda CBX 750F, adaptar-se à potência e rapidez da Ninja foi uma questão de horas.         No dia 7 de setembro de 1991, a caravana deixou Florianópolis rumo a Valparaíso à cerca de 3.000 km dali. A saída estava marcada para as 9h30, mas a pontualidade brasileira não falhou: o grupo partiu às 13h. E nem bem tinham rodado 40 km, a primeira parada: um dos motociclistas quis comer uma coxa de galinha na cidade de Paulo Lopes (SC), com a alegação de que lá se vende a melhor "coxa" de Santa Catarina. Até aí João achava que a aposta com William estava no papo: como haviam vários motociclistas inexperientes em longas viagens, acreditava que a cada 1 mil km alguém desistiria.              A caravana, então com 12 motos, passou por Porto Alegre (RS) e pernoitou em São Gabriel (RS), a 160 km da fronteira com o Uruguai. No dia seguinte o grupo seguiu para Tacurimbó, no Uruguai, onde um motociclista brasileiro que mora na cidade os esperava. Era Artur Henrique Córdova, o fotógrafo "oficial" da viagem.         A próxima parada seria em Santa Fé, já na Argentina, onde a caravana teve que cruzar um túnel sub – fluvial. São três quilômetros por baixo do Rio Prata e, durante o trajeto, é proibido ultrapassagem. Mas João e Zaldecir Alves Freitas, o Ciro – com uma Kawasaki ZX-10 – não resistiram e passaram à frente de outras motos. Um "detector de ultrapassagens" entrou em ação e algumas luzes no túnel começaram a piscar sem parar. Então, numa das muitas brincadeiras que ocorriam durante a viagem, os dois apressados colocaram a culpa em Sigifrido Giardino Graziano, o mais velho do grupo ( 56 anos ), logo que a caravana foi parada na saída do túnel por policiais. Sigifrido, também de ZX-11, não entendeu nada quando os policiais quiseram multá-lo. Gastou muito "portunhol" para explicar que não fora o errado. Nesta altura, João e Ciro estavam bem longe...        PELO DESERTO         Em Córdoba, ainda na Argentina, mais dois motociclistas aguardavam a caravana: os irmãos Martin e Alberto Otero. Martin, considerado o melhor motociclista do grupo, com uma Honda Transalp 600V e Alberto com uma antiga Honda CB 550 Four dos anos 70. Mais uma vez os brasileiros foram recebidos com festa, já que Córdoba é um dos principais centros motociclísticos da Argentina.         Entre Córdoba e Mendoza, cidade já da região dos Andes e na fronteira com o Chile, o grupo cumpriu o trecho mais cansativo até então. A região é desértica, a temperatura chega a 40 º C. Foram 500 km através de uma estrada que corta uma área parecida com a caatinga brasileira, quase sem vegetação. Nesta localidade inóspita só se vis estrada pela frente. A preocupação de João e William, de Honda CBR 1000F, era com procedimentos de segurança para o grupo, pois alguns como Sigifrido, encostavam muito com suas motos nos demais. Uma desatenção ou um "cochilo" – já que a paisagem repetitiva chegava a dar sono – poderia causar um acidente.         Já em Mendoza, o grupo cruzou para o lado chileno. Para alguns, o primeiro encontro com a Cordilheira dos Andes e a neve foi fascinante. Foram inevitáveis brincadeiras como guerra de bolas de neve, e já que o dia estava ensolarado, alguns resolveram até tirar a camisa para "escalar" alguns barrancos cobertos de neve. De Los Andes a caravana foi à Santiago, capital chilena. Lá o grupo teve uma lição de Polícia local: um dos motociclistas estava rodando sem capacete em uma grande avenida de trânsito intenso; policiais paralisaram o tráfego para que o "distraído" colocasse seu capacete; o motociclista ainda tentou um "eu paro ali na frente e coloco" mas não adiantou; o trânsito que esperasse, mas ele não iria em frente sem o capacete. E, por sorte, não levou uma multa...                      A caravana ficou três dias em Santiago, aproveitando para fazer compras – principalmente as três mulheres que foram nas garupas dos maridos -, conhecer a boa cozinha local, à base de frutos do mar, e curtir noitadas com muito vinho e cerveja. A única crítica aos chilenos, segundo João, é que eles não gostam muito de usar motos e as poucas que são vistas por lá são velhas ou novas mal conservadas.                   O trecho final da viagem foi até o litoral chileno. A caravana seguiu para o balneário turístico de Viña del Mar e depois para a cidade portuária de Valparaíso, uma bastante próxima da outra. Para comemorar a conquista do objetivo, o grupo organizou um almoço em um restaurante panorâmico montado em um antigo píer que invade em alguns metros o Oceano Pacífico.                NEVASCA         Durante o almoço em Valparaíso, quando já se combinava a volta ao Brasil, o grupo ficou sabendo que havia caído uma tempestade de neve na região de Los Andes. Justamente para onde eles estavam rumando. Mesmo diante da notícia da nevasca, a caravana foi para Los Andes. Lá, a ligação com o lado argentino estava interrompida e a cidade lotada. Não havia lugar para toda caravana no mesmo hotel e, pela primeira vez, o grupo não ficou junto. Foram três dias em Los Andes, com muita chuva e frio. Jogar conversa fora, jogar baralho, tomar um porre diário, foram alguns dos divertimentos do grupo na estada forçada em Los Andes.         Liberada a estrada para o lado argentino, o grupo teve que comprar correntes para colocar nos pneus das motos e assim aumentar a tração para vencer a camada de neve que ainda se acumulava em alguns trechos. A tática era esperar que os carros passassem para marcar o "trilho" e depois segui-lo, diminuindo assim o perigo de derrapagens, já que fora a Transalp e uma Yamaha XT 600Z Téneré que contavam com pneus de uso misto, as demais eram estradeiras / esportivas.         Vencida a estrada da Cordilheira dos Andes, o grupo seguiu novamente para Mendoza. João Gonçalves ia à frente e por pouco não se deu mal: parou a moto para recolher dois cachorrinhos abandonados e quase foi pego em cheio por um caminhão que vinha atrás. Neste trecho também houve o único tombo da viagem: Gilson Losso, que estava com a Téneré, caiu mas não se machucou. O único prejuízo foram dois piscas quebrados.         Em Córdoba, mais uma vez houve festa e até uma canal de televisão argentino mandou repórteres para entrevistar o grupo. O retorno foi pelo mesmo percurso, com nova passagem por Tacuarimbó, no Uruguai. No dia 22 de setembro os 12 motociclistas catarinenses chegaram à Florianópolis com 6.500 km rodados. Para variar, houve um grande churrasco, com muita cerveja e uísque.         Feito um balanço, cada membro da caravana viajou com cerca de US$ 1,5 mil ( Cr$ 930 mil pelo câmbio paralelo do dia 9 de outubro ), que deu para pagar comida, hospedagem e gasolina. Entre as muitas lições de uma viagem coletiva, o experiente João Gonçalves Filho cita o poder de negociação: "A mulher de William, Miriam, é uruguaia e se encarregava das negociações no Chile e na Argentina com donos ou gerentes de hotéis e restaurantes, já que com 18 pessoas só nas motos ( fora outras sete que foram em três carros), lotávamos os locais. Com isso, sempre conseguíamos descontos. Em algumas cidades, chegamos a ter hotéis e restaurantes só para o grupo", diz.           O grupo se prepara para outra viagem, desta vez para o Nordeste brasileiro – veja os nomes dos aventureiros e das motos no quadro - e a idéia é aumentar o número de motos na caravana. "Esperamos mais de 20 motos para a próxima aventura", comenta João Gonçalves, que de descrente no projeto de uma viagem coletiva, é agora um dos maiores defensores da idéia.               A CARAVANA NOME MOTO William Robert Dams Miriam Berois Honda CBR 1000 F João Paulo Oliota Carmem Oliota Honda CBX 750 F José Carlos Gomes Rosilda Santos Honda CBX 750 F João Gonçalves Filho Kawasaki Ninja ZX – 11 Gilson Eloy Losso Yamaha XT 600Z Téneré Tiago Manoel de Souza Honda CBX 750 F Afonso Dutra Honda CBX 750 F Zaldecir Alves de Freitas Kawasaki Ninja ZX – 10 Rogério da Veiga Cordel Honda CBX 750 F Artur Henrique Córdova Honda CBX 750 F Jair Pires Filho Honda CBX 750 F Geovani de Souza Honda CBX 750 F Sigifrido Giardino Graziano Kawasaki Ninja ZX – 11 Martin Otero Honda Transalp 600 V Alberto Otero Honda CB 550 Four FIM  

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