Blog

Relato de viagem

Revisitando o Atacama 2018

Revisitando o Atacama 2018 Passados nove anos de nossa primeira passagem pelo deserto do Atacama, resolvemos refazer o mesmo percurso de 2009, apenas para curtir um pouco de estrada e também para a mais nova Cuturneira (Paula) ser apresentada a Cordilheira dos Andes. Optamos pelo mesmo percurso, no mesmo sentido, apenas com uns pontos diferentes para pernoite. Sabidamente iremos enfrentar algumas situações novas, seja pelo dinamismo da mãe natureza, seja pela época do ano menos apropriada para viajar em moto pela região andina em que nos encontraremos no retorno.


Quinta (01/02/2018) Dia 01: Passo Fundo (RS) – Quaraí (RS) – 667 km Ao sair de casa pela manhã, com temperatura nos agradáveis 21°C, o hodômetro da moto apontava modestos 2.146 km, marcando a iniciação de minha nova companheira de longas viagens, uma Suzuki DL 650 V-strom XT ano 2018. A primeira parada para abastecimento foi em Santa Maria, foi onde avisei ao amigo Eder Velasque, do Campanas Moto Grupo de Alegrete, que passaria em sua cidade para dar um abraço e trocar algumas palavras. Cheguei aos pagos alegretenses por volta das 14 h, o Eder me aguardava na entrada da cidade para me guiar até sua casa, onde fui recebido com muita camaradagem e um lindo arroz com linguiça campeira. Depois do banquete e de muita prosa com amigos e a família do Eder, tiramos algumas fotos na frente de sua oficina e continuei a viagem com destino à cidade onde programei a pernoite. Com o termômetro batendo na casa dos 39 °C cheguei a Quaraí, cidade que faz fronteira com a uruguaia Artigas. Sem muita dificuldade encontrei a antiga casa de meu tio Ferrari onde fiquei hospedado. Fiz esta volta mais longa para matar um pouco de tempo, pois o Sérgio sairia de Porto Alegre somente no dia seguinte mas, principalmente, para rever este tio que a muitos anos não tinha contato, desde a morte de minha tia Norma, irmã de minha mãe. Com este ramo da família, desde minha infância, passei muitos verões juntos no saudoso balneário do Hermenegildo, situado no extremo sul do Rio Grande do Sul, na cidade de Santa Vitória do Palmar. Ainda com dia claro, fomos eu e minha prima Patrícia até a aduana conjunta para realizar meus trâmites de entrada no Uruguai. Mesmo não realizando a entrada por Artigas resolvi carimbar o passaporte nesta tranquila fronteira, pois já estaria livre de tal procedimento no dia seguinte e poderia apenas cuidar dos equipamentos enquanto o Sérgio e a Paula realizavam a saída na nova aduana. A muito tempo também não via a Patrícia, aproveitamos assim para colocar a prosa em dia e dividir algumas latinhas de cerveja na varanda da casa até tarde da noite.  


Sexta (02/02/2018) Quaraí (RS) – Trinidad (Uruguai) – 476 km Saí de Quaraí por volta das dez horas da manhã e a temperatura ainda estava agradável. Passei uma barreira do exército e segui passeando pela bela BR 293. A muitos anos eu ouvira notícias sobre zonas de arenização na campanha gaúcha e agora pude conferir com meus próprios olhos onde as verdes pastagens que servem para engordar o gado deram origem a inférteis trechos de areia em meio ao bioma Pampa. Esta arenização é um processo natural, não confundir com desertificação. Para explicar melhor copio abaixo um texto de autoria de Rodolfo Alves Pena, de seu trabalho “Arenização na Região Sul”: “Na região sul do Brasil, mais precisamente no estado do Rio Grande do Sul em sua porção sudoeste, existe um problema ambiental que vem se agravando ao longo do tempo: a arenização. Trata-se da formação de bancos de areia em solos predispostos para essa ocorrência, o que ocasiona o esgotamento das áreas agricultáveis e a consequente perda da vegetação e de nutrientes. É muito comum que se confunda o processo de arenização com o de desertificação. No entanto, trata-se de fenômenos basicamente diferentes, pois a desertificação corresponde à degradação dos solos em regiões de clima árido e semiárido, que possuem índices de precipitação inferiores a 1400mm anuais e menores do que os índices de evaporação. No Rio Grande do Sul, o clima, que é o subtropical, apresenta índices de chuva maiores e a precipitação é maior do que a evaporação. Portanto, não existe desertificação no sul do Brasil, processo que acontece na região Nordeste do país. As chuvas, inclusive, exercem um papel importante no processo de arenização, algo que não acontece no fenômeno da desertificação.A arenização na região Sul ocorre pela soma de alguns fatores: a predisposição dos solos, que são naturalmente arenosos; o uso intensivo deles na agricultura; a remoção da vegetação e a retirada de nutrientes. Com o desmatamento das áreas para a agricultura, os solos ficam mais expostos à ação das chuvas, que auxiliam na sedimentação e movimentação dos sedimentos, que, por sua vez, dão origem aos areais que recobrem os solos e tornam a paisagem, em muitos casos, semelhante a áreas de deserto.Vale lembrar que a arenização é um processo natural e sua ocorrência no Rio Grande do Sul possui vários registros históricos. No entanto, a intensificação da agricultura nessa região ao longo do século XX contribuiu para uma intensificação sem igual desse problema, que se tornou crônico em boa parte do espaço geográfico local. Portanto, além de conservar as áreas de solos arenosos, é preciso tomar medidas de atenuação dos impactos, como o cultivo da vegetação e fertilização das superfícies.” Ainda na parte da manhã cheguei a Santana do Livramento e, mesmo sabendo o caminho mais fácil que seria até o entroncamento com a BR 158, resolvi dar uma chance para o GPS e entrei por uma entrada secundária. Esqueci-me de um pequeno detalhe: mesmo sabendo como chegar ao posto combinado pela BR 158, eu não tinha ideia do endereço do mesmo para colocar as coordenadas no GPS. Perdi um bom tempo até encontrar um ponto de referência conhecido e achar o ponto de encontro com o Sérgio e a Paula. Fizemos de um lanche o almoço e seguimos para a aduana. Com forte calor pegamos o rumo da Ruta 5 e tocamos até a cidade de Durazno, onde viramos a direita para seguir a Trinidad.Assim que chegamos já paramos num posto do centro para abastecer e, utilizando a internet do estabelecimento, liguei ao Ruben, nosso anfitrião no dia de hoje. A noite foi de boa conversa com os amigos uruguaios, excelente cerveja de litro e um costelão de 9,5 kg acompanhado de “arrollados de cordero” (intestinos enrolados de ovelha). Aproveitamos também para discutir sobre o caminho a seguir no dia seguinte, pois a estrada que estávamos habituados a usar estava em péssimas condições (Ruta 57 para pegar a Ruta 2), praticamente sem a camada asfáltica. A opção nos dada para chegar a Fray Bentos, onde sairíamos do Uruguai, seria pela Ruta 3 virando a esquerda na Ruta 20. A distância era praticamente a mesma, o caminho está em boas condições salvo alguns pequenos trechos da 20 que estavam em reparos.  


Sábado (03/02/2018) Trinidad (Uruguai) – Venado Tuerto (Argentina) – 651 km Ainda muito cedo o Rubens nos guiou até a saída da cidade, nos deixou na Ruta 3, por onde devíamos seguir até achar a placa indicativa da Ruta 20. Segundo o nosso mapa, esta saída deveria estar alguns quilômetros após a localidade de Andresito, já na província de Rio Negro. Achamos a tal saída, apenas com o detalhe que a placa indicava Ruta 24. Seguindo as informações coletadas ontem e o mapa que dispúnhamos, ignoramos a indicação do GPS e dobramos aí mesmo. Acertamos o caminho e, depois de alguns poucos trechos ruins, alcançamos a boa Ruta 24 que nos levou até a Ruta 2 e, finalmente, até a fronteira com a Argentina. Havia poucos carros na fila para entrar na Argentina, nossos trâmites foram rápidos e os agentes muito cordiais. Em contrapartida, a fila no sentido contrário, da Argentina para o Uruguai, era muito longa, chegava atravessar a ponte sobre o rio Uruguai e continuava em solo argentino. O calor continuava forte, passamos por Gualeguaychú, Gualeguay, Victória, Rosário e chegamos cedo a Venado Tuerto. Depois de fazer o check-in no hotel Mirô, já um velho conhecido nosso, descemos ao bar para nos refrescar com uma cerveja e fazer um lanche. Logo saímos para caminhar pelo centro da cidade e passamos em frente a uma loja de artigos esportivos; o Sérgio teve interesse num tênis e resolveu parar para perguntar o preço, para nossa surpresa fomos atendidos por um brasileiro que vive já a alguns anos nesta cidade. Depois de comprar o tênis e de uma boa conversa com o brazuca, retornamos ao hotel para jantar. Hotel: Mirô Park Apart Hotel, Rua Chacabuco 915, www.miropark.com.ar  


Domingo (04/02/2018) Venado Tuerto - Mendoza (Argentina) – 723 km Hoje foi um dia sem grandes novidades, usamos um caminho habitual que nos leva a Mendoza. Após sair da Ruta 33 na localidade de Rufino, percorremos a Ruta 7 passando por Villa Mercedes e San Luís até chegar a Mendoza. No caminho paramos apenas para abastecer, descansar e tomar água. Em alguns momentos da viagem o termômetro de minha moto acusou 41 °C de temperatura ambiente. Ao chegar a Mendoza fomos direto ao conhecido Hotel América, de fácil localização e acesso. Após acomodar nossas coisas nos quartos verificamos que a qualidade do hotel havia caído substancialmente, estava bem pior desde a nossa última passada aqui em julho de 2011. Para ser mais preciso, antigamente figurava no site como 3 estrelas mas agora aparecem apenas 2 (o que é um exagero !). Também fomos obrigados a procurar um posto de gasolina mais distante, pois o que ficava próximo ao hotel estava sem combustível. Após tudo arrumado para nossa partida no dia seguinte, tomamos um bom banho e saímos caminhando para procurar um local para jantar. Fomos até a “parrillada” El Asadito, sugerida pelo pessoal do hotel mas, como esta ainda estava fechada, ficamos tomando uma cervejinha artesanal em um pub adjacente. Assim que o restaurante abriu “caímos para dentro” e pedimos uma parrilada completa. Normalmente quando pedidos alguma bebida nos bares e restaurantes argentinos, também é servida uma porção de “mani” (amendoim) para acompanhar a cerveja. Neste caso, o restaurante serviu um delicioso bucho a vinagrete e pão para acompanhar a geladinha. Recomendo a novidade! Ao retornar para o hotel ficamos sabendo que houve um aluvião na cordilheira e que a estrada estava cortada logo após Uspallata. Fomos dormir apreensivos com a notícia, pois nossa passagem ao Chile estava temporariamente bloqueada por metros de lama e pedras e não tínhamos muito tempo de sobra caso a liberação da estrada demorasse muitos dias. Hotel: América, av Juan B Justo nº 812, fones 261 4258284/ 4231477/ 4254022, www.hotelamericamza.com.br  

Continue reading
Cron Job Iniciado